12/09/2009

A responsabilidade em viver a vida

As palavras do professor Wanderley Geraldi trouxeram várias reflexões interessantes para repensarmos nossas próprias vidas através da análise feita de como três grandes pensadores: Freinet, Freire e Baktin - se aproximam.
Somos seres frágeis e incompletos. Não temos controle dos dias mais importantes de nossas vidas: nosso nascimento e nossa morte. Não escolhemos nem o dia de um e nem do outro. Não nos lembramos do dia em que nascemos e nunca teremos ciência de nossa própria morte. Só quem nos cerca é quem poderá dizer como foi nosso nascimento ou poderá concluir que morremos. Não temos nem a capacidade de ver nossa própria imagem e nem ouvir nossa própria voz como são. Podemos ver um reflexo, uma foto, ouvir uma gravação; mas para tudo isso precisamos de algo intermediando o processo, desprovido deles, não temos acesso a nós mesmos. Os melhores presentes que podemos ter também não podemos nos dar, apesar de serem gratuitos. Não podemos ver nosso sorriso, sentir nossos abraços. Somos, portanto, dependentes, precisamos dos outros. São os outros que nos vão ver e nos vão dar o que não podemos ter por nós mesmos. É nos outros que podemos buscar uma maior completude própria, pois só os outros possuem um excedente de visão de nós.
O outro nos é tão importante que é através dele que vamos construindo a nós mesmos. Só devido a relação que estabelecemos com o outro é que vamos estabelecendo, mudando e transformando a nossa consciência, a nossa personalidade. Passássemos nossa vida sem nos relacionar com os outros, não desenvolveríamos a linguagem, nem nosso pensamento e pouco teríamos que nos pudéssemos chamar de ser humano. O ser humano é essencialmente fruto do coletivo, da história e da sociedade.
Se somos seres essencialmente sociais, nada mais coerente de aceitarmos esse fato humildemente e primar pelo outro em relação ao eu, pois sem o outro, somos ninguém. E isso, os três pensadores fazem muito bem ao se preocuparem em seus pensamentos e práticas com o próximo e, por terem essa preocupação, agem com dignidade da prática humana que implica numa responsabilidade em seus atos.
Eles tinham essa noção de responsabilidade como definição de ética. Entretanto, para nós isso nem sempre é claro. Devíamos ter uma consciência maior do que implica sermos seres sociais que dependem de uma vida coletiva. Quando dizemos que dependemos dos outros para sermos quem somos, significa também que o outro depende de nós o que nos torna responsável não apenas por nós, mas também por quem nos cerca.
Nossos atos são reflexos de nossa própria história que por sua vez tem grande influência dos atos de quem fez parte desta história. Portanto, tais pessoas que nos influenciaram são responsáveis por tais atos nossos. Por nossa vez, o modo como significarmos nossas próprias ações poderá interferir na resposta que o outro dará ao que fazemos, o que nos faz sermos responsáveis pelo significado que damos e, por conseqüência, pela resposta alheia. Logo, somos todos responsáveis por nós mesmos e pelo outro.
Se em nossa vida há tamanha reciprocidade por essência humana, faz-se fundamental valorizarmos a dialogia, o diálogo que não é uma busca em que duas pessoas tentam anular uma a outra, ao contrário, é uma relação de enriquecimento mútuo onde saímos sempre carregando um pouco do outro e deixando no outro um pouco de nós.
Nossa vida é, portanto, feita pelas pessoas com as quais cruzamos em nosso caminho e contada pelos acontecimentos. Estes não são simplesmente tudo o que acontece em nossa vida, mas tudo o que nos acontece. Muitas coisas acontecem em nossa vida, mas nem tudo o que acontece nos marca. De tudo o que vivemos, apenas parte percebemos e o resto nem notamos apesar de termos estado ali presentes. E desta parte que percebemos, nem tudo será digno de nossa recordação. Apenas aquilo que nos aconteceu de verdade, que mexeu conosco em sentimento e alterando nosso ser com maior significado é que poderá ser chamado de acontecimento se tornando mais um capítulo de nossa própria história. Quanto mais acontecimentos acumularmos, sinal que mais intensamente estamos vivendo nossa vida.
Faz-se interessante pensar também que o modo como vivemos nossa vida hoje é determinado por aquilo que queremos para o nosso futuro. Ao refletirmos desta maneira se torna mais possível e entusiasmador buscarmos mais acontecimentos para enriquecer nossa vida. Isso porque nos vemos como agentes de nossa vida e não como prisioneiros de nosso passado. Não significa dizer que devemos ignorar nosso passado como se ele não tivesse importância em nosso ser. Nosso passado é o grande responsável por quem somos e ele traz consigo nossas condições e um gama de lições que podem nos auxiliar em nossas futuras decisões. Porém, devemos agir hoje pensando em sermos melhor, nisso o passado pode nos auxiliar, mas é o futuro que queremos para nós que nos deve guiar. E este futuro é desconhecido, não está determinado, podemos sonhar e imaginar como quisermos e nos planejar para alcançarmos. Ao priorizarmos o futuro quando pensamos em nossas ações no presente ao invés de simplesmente nos prendermos ao passado, nos tornamos livres e por sermos livres, somos mais uma vez responsáveis.
Enfim, nossa vida é mais plena quando assumimos a responsabilidade em vivê-la e é mais digna quando assumimos que também somos responsáveis pela vida alheia. Certamente os três pensadores que foram pano de fundo para tantas reflexões em uma aula de puro enriquecimento pessoal tiveram suas vidas plenas e dignas pois, mais do que pensadores foram verdadeiros humanistas.

01/09/2009

Pequeno balanço antes mesmo da gripe suína...

O texto de Julia Varela veio para coroar o encerramento das primeiras aulas do nosso curso de extensão. Antes mesmo de lê-lo, iniciei uma reflexão sobre tudo que vimos, discutimos e destaquei a desconstrução do que entendemos por escola como o raciocínio de maior importância na prática docente, pelo menos para mim. Diria que isso é mais do que um raciocínio, é um exercício constante que tento vivenciar dia após dia.
Fui educada em escolas marcadas pela “pedagogização do conhecimento” e pelo “disciplinamento interno dos saberes”. Desconstruir essas duas expressões, que a princípio são como pilares dessa educação submissa da qual participei, está sendo um desafio, principalmente porque agora, colocando-me do lado do magistério, me pego reproduzindo ações sem nenhuma reflexão anterior, porque quando me foram transmitidas foi dessa forma que elas vieram: prontas, consideradas “verdades absolutas”, sem contestação alguma de minha parte. Preciso superar as barreiras históricas da construção da escola, me distanciar e estranhar de tudo que aprendi, porque, como Varela explica muito bem, “nosso relativo êxito escolar nos incita a reproduzir o adquirido, a transmitir saberes descontextualizados, saberes formais e ocos, como se fossem o único e verdadeiro saber legítimo”.
Agora me pergunto: será que fui realmente educada? Ou melhor, que tipo de educação recebi? E ainda: Isso seria educação? Que tipo de educação defendo atualmente? Depois de algumas dinâmicas, leituras e discussões, tenho muitas dúvidas e incerteza, mas minha vontade é clara e quero oferecer aos meus alunos aquilo que não foi me oferecido: a possibilidade de refletir a vida, refletir a cidadania.

NOVIDADE: Meu primeiro dia de estágio na Curumim

Minha novidade da quarta passada foi minha primeira participação em uma das aulas da Curumim. Fiquei com a Turma do Feijão Mágico, que é formada por crianças de 2 a 4 anos, no período da tarde. Foi uma experiência muito enriquecedora, sai de lá cheia de idéias, questionamentos, dúvidas e com muito pique para a mudança. Também sai decepcionadíssima com meu Livro da Vida, rs. Frustrações a parte, não é fácil pra ninguém tirar um período da semana para estágio, mas eu afirmo: VALE MUITO A PENA!