31/08/2009

Olá freinéticos!
A minha novidade da semana, que na verdade já não é novidade para os que estavam na última aula, é a seguinte:
Trabalho em uma sala de berçário no CEMEI Isaura Roque Quércia, em Campinas, com crianças de 3 a 12 meses. Por conta da gripe H1N1, trabalhamos um período na creche sem a presença das crianças, ao retornarem, para nossa surpresa, os bebês já estavam andando, porém, simultaneamente também mordendo, o que provoca um clima de tensão para os profissionais, angustia para os responsáveis e dor para as crianças.
Ester

28/08/2009

As minhas primeiras descobertas com o curso

Este relatório foi solicitado pela Profa. Gláucia para ser entregue no início de julho.

Procuro relatar aqui os meus pensamentos depois destas cinco primeiras aulas do curso de Pedagogia Freinet ministrado pela Profa. Gláucia de Melo Ferreira da Escola Curumin e pela Profa. Maria Teresa Mantoan da Faculdade de Educação da UNICAMP. Começo este relato apresentando uma tela do Magritte (acima) que gosto muito e que transcreve, pelo menos para mim, uma das primeiras discussões do nosso curso, que envolvia as perguntas: O quê fomos?, O quê somos? e Para onde vamos?

Dentre as várias interpretações possíveis sobre esta tela, uma delas está relacionada ao fato de que o que vemos, e portanto o que somos, é fruto do que fomos, ou seja, do nosso passado. Afinal o presente é efêmero demais e o futuro incerto demais e não poderiam contribuir para o que somos. Esta interpretação também me ajuda a descrever o meu primeiro avanço no curso, que foi a desconstrução do que eu acreditava ser a poderosa escola “tradicional”. Não percebia eu como a idéia desta escola “tradicional” forte e imutável estava impregnada em meu ser. Ser este construído com uma história de vida inserida neste modelo de escola “tradicional”. Afinal o que sou é fruto do que fui, por onde passei e vivi. Quando discutimos o fato de que este modelo “tradicional” não é tão antigo assim e que é um modelo fruto da necessidade da sociedade da época e portanto concluímos que não é um modelo tão forte e tão imutável, eu me senti expurgando o meu primeiro demônio. Senti-me mais leve e por que não dizer mais pura depois deste exorcismo. Esta pureza me fez estar mais pronta para as novas discussões e descobertas. As novas descobertas sobre algumas das ferramentas de trabalho da Pedagogia Freinet, bem como alguns dos fundamentos desta pedagogia muito me encantaram e entusiasmaram e continuam a me encher de idéias. Precisa estar mais leve e mais puro para conseguir entender que “deixar a vida entrar na sala de aula, como dizia Freinet” não significa simplesmente levar os alunos para fazer estudos do meio e pedir posteriormente um trabalho sobre o assunto abordado. É preciso exorcizar muitos demônios para se sentir à vontade com a ausência das verdades dominantes e pensar o trabalho do educador calcado na cultura das incertezas e deixar a vida invadir de verdade o espaço que cerca o mundo educacional. Não posso deixar de citar também outra descoberta que me consumiu dias a fio. A Profa. Maria Teresa Mantoam disse numa aula que: “conhecer o aluno é algo muito mesquinho”. Esta frase me pegou de cheio. Passei dias pensando nela e descobri que é mesmo muita prepotência achar que o professor tem a habilidade de conhecer profundamente os alunos através do conhecimento de fatos de suas vidas privadas e que estes fatos seriam preponderantes na sua relação com o aluno. Estes pensamentos me mostraram que eu não entendia realmente a relação do professor com o aluno, pois esta relação de forma alguma seria uma relação pessoal ou uma relação analista-paciente. Acredito enxergar um pouco mais agora que a relação do professor com o aluno é mais uma relação intensa do tipo companheiros de trabalho na saúde e na doença, na alegria e na tristeza para criar e construir pensamentos e coisas, crescendo e vivendo juntos no tempo que a vida nos dá. Agora vejo que é mesmo um consenso que de nada valem os fatos da vida cotidiana de cada um, seja professor ou aluno, pois temos é que ser capazes de interagir e de se relacionar apesar das inquietações da nossa vida. Afinal nosso objeto é muito maior do que fatos, mas é o conhecimento. Certamente é ele que nos levará a entender o que fomos, o que somos e para onde vamos. Magritte tentou sugerir algumas respostas na sua tela, mostrando também o olhar para si mesmo. Precisamos agora é começar a pintar a nossa tela.

01 de Julho de 2009

27/08/2009

A garantia de se fazer ouvir

Na última aula apresentei a minha novidade da semana sobre procurar deixar os meus alunos se manifestarem um pouco mais durante as aulas de Física que ministro. Estes são alunos agitados do ensino médio que me dão um trabalhão para manter uma certa ordem para quer os conceitos da Física possam ser trabalhados. Porém, andei percebendo que proibí-los de interferir durante a aula, deixando que façam isto somente num determinado momento que eu julgava conveniente poderia bloqueá-los de contribuir, promovendo a falta de interesse. Passei a procurar ouví-los um pouco mais na hora em que eles me solicitam, mesmo que interrompa a aula. Afinal o momento que solicitam ser ouvidos é o momento que julgam importante serem ouvidos, embora em alguns casos a fala não contribua para a aula. Certamente eles tem muito o que falar e contribuir para a aula. Muitas vezes quando não deixo os alunos falarem no momento em que solicitam e posteriormente solicito que falem, eles desistem de falar. Esta desistência me frustava em demasia. Me sentia uma homicida da pior espécie... Agora estou relevando mais e deixando que eles falem. Esta foi a minha novidade da semana.

25/08/2009

Campinas, 01º de Julho de 2009.

Curso de Extensão: “Pedagogia Freinet: vida e cidadania na escola”.

Trazendo à tona recordações teóricas e afetivas vivenciadas nestes nossos encontros às quartas feiras, pretendo aqui registrar meu apanhado de forma bastante solta apesar da configuração textual em Times New Roman número 12 espaçamento em 1,5 cm.
Nesta história, quem primeiro dá as caras são aqueles homens, mulheres e crianças que produziram artesanalmente seus próprios instrumentos de caça e pesca, não por acaso hoje reduzidos à peça decorativa. O trabalho se traduzia em objeto artístico impregnado de sentido. A arte...
Hoje, eu estudo, eu lido com a burocracia, eu tenho minha mesa de trabalho cuja madeira sabe lá Deus de onde veio! E eu ganho dinheiro! Quem construiu essa mesa não foi um carpinteiro. Essa mesa pode ser igual à mesa do meu colega, do meu colega e de meus colegas, e quem a construiu nem sequer o imagina, pois do todo, foi responsável apenas por uma parte do pé. Esse porqueiro
[1] que fez parte da referida mesa, ou dessa mesa mesma que está agora sob o computador que vos traduz os dígitos; esse porqueiro, ele trabalha com os braços, ele não ganha dinheiro...
À grosso modo, quero ilustrar parte de um processo que eu posso identificar de alguma forma como uma divisão social do trabalho, em que teoria e prática se desvinculam de sua intimidade para se vincularem por uma relação de poder e valorização de uma sobre a outra, numa relação de subordinação, contradição e opressão.

Agora, nos perguntemos: e o papel dos educadores e educadoras inseridos e inseridas nas nossas escolas ditas tradicionais ou não tradicionais?

Em seus questionamentos finais do capítulo entitulado “O estatuto do poder pedagógico”[2], Juliana Varela apresenta em primeiro lugar a proposição do que fazer para articular teoria e prática. Pois bem, se pensarmos em nossa história podemos notar que nossos avós e bisavós lidavam bastante com um saber conjugado à prática, planejando como seria o sistema de escoamento da água da chuva, por exemplo, e colocando este plano em prática, fazendo daquilo uma engenhoca artística. Essas são nossas raízes?
Nós, hoje, estamos cada vez mais inseridos na lógica da valorização do trabalho intelectual sobre o braçal, situação esta otimizadíssima quando iniciamos nosso contato com a escola tradicional, naqueles moldes que discutimos em nosso primeiro encontro, y hasta ahora buscamos desconstruir. Surge alguma idéia propositiva para exercermos a educação de forma libertária e viva?
Ora, que tal eu buscar e fortalecer as minhas raízes e fazer disso uma prática coletiva, alicerce para forjarmos um outro mundo possível? Acredito que a arte tem a força, a substância e a doçura de nos devolver a possibilidade de nos transformarmos em seres humanos humanos (isso já não é uma redundância...). E que fique claro que não se trata de resgatar tradições arcaicas e impô-las no contemporâneo, mas é, em uma das fatias, significar-se... Também vale dizer que estou pensando a arte aqui neste sentido de produzir com significado, trazendo à tona a intimidade da teoria com a prática. Tenho esta impressão dos ateliês pensados e executados pelo Freinet. Pretendo estudar os livros desta pessoa com maior profundidade; apresenta-se-me bastante criativo, inovador e politizado.
Bem, por hora, aqui se finda minha expressão (ou meu expressinho!).

Thalita Camargo Angelucci


[1] Alusão ao texto “Agamenom e seu porqueiro”, In: Pedagogia Profana, Jorge Larrosa, 1999.
[2] Texto de Júlia Varela, 4º capítulo do livro "O sujeito da Educação - Estudos Foucaltianos”, organizado por Tomaz Tadeu da Silva, Editora Vozes, R.J., 2005.

21/08/2009

Balanço de Conhecimentos

Por que procurar novas idéias, novos conhecimentos, novas teorias, novos caminhos? Quando paramos para refletir sobre as coisas sentimos essa necessidade de procurar coisas diferentes, a fim de nos satisfazermos nossos desejos de saber sobre elas, o porquê e para que delas. Como futura professora, me vi frente a uma escola em crise, isto é, uma escola sem motivação, sem sentido, sem vida. Mas como poderia atuar numa escola dessas sem rever minha concepção de educação, do que é a própria escola, do que essa escola significa para mim e para as crianças e, acima de tudo, sem pensar em como eu poderia atuar nela?
Tive que procurar alternativas, desconstruir velhas idéias e construir novas. A Pedagogia Freinet está trazendo muitos elementos importantes nesse processo. Estamos repensando conceitos como “ensinar”, “aprender”, “trabalhar na escola”, entre outros. Além disso, pudemos primeiramente desfazer a imagem da escola tradicional para refazê-la, mas pensando numa outra escola, uma escola construída por elementos que nos fazem sentido e que são parte da nova concepção de educação a que estamos tentando dar forma, ainda que essa forma seja um pouco deformada e constantemente modificada por novos questionamentos, novas desconfianças e novas idéias.
Discutimos sobre como a escola tradicional tenta fazer com que os seus alunos aprendam, ou seja, trata-os como “objetos” onde se podem colocar as idéias de forma simples, mecânica, ou como diz Paulo Freire, bancária, depositando-as na cabeça desses alunos. Questionamos esse posicionamento e nos perguntamos: quando o aluno aprende algo e como faz isso? Então pensamos em outras possibilidades de educação.
O que motiva o ser humano a querer aprender e conhecer algo é uma dúvida, uma pergunta. Assim, os alunos tem suas perguntas e essas perguntas os motivam a procurar respostas, procurar conhecimentos. O professor deveria estar auxiliando, quando preciso, nesse caminho em que o aluno procura conhecer. Discutimos que suas perguntas podem levá-lo aos saberes ou conhecimentos já produzidos pela humanidade ou a formular suas hipóteses. Esse processo de interrogar, formular hipóteses, procurar respostas pode levar o aluno a produzir um trabalho. Freinet é partidário da educação pelo trabalho, isto é, esse trabalho que é fruto de um processo de busca e produção de conhecimentos.
Essas idéias provocativas são importantíssimas para revermos nossos próprios ideais e nossas formas de trabalhar e/ou pensar a educação. Juntamente com isso, fomos mais uma vez provocamos e interrogados quanto às nossas verdades e à nossa realidade com as palavras de Agamenon e seu Porqueiro. Afinal, que verdades são essas, e talvez mais importante ainda, DE QUEM são essas verdades?
A verdade é poderosa, ela nos induz a fazer o que ela quer, a ser o que ela quer, pensar o que ela quer. Esse QUEM a quem pertencem as verdades, as usa como objeto de dominação, repressão quando caímos em suas ciladas. Discutimos que talvez seja melhor viver nas “incertezas” do que cair na mentira da verdade, pois essa verdade pode ser perigosa.
Na escola, a vida aparece quando deixamos as pessoas se manifestarem como elas são, e não quando são induzidas a ser ao reinarem as verdades. Penso que todos nós temos nossas idéias, nossos valores e sempre estamos aprendendo e construindo esses. Se deixarmos que as diferenças se manifestem na escola, a vida e a diversidade estarão presentes e os modos de pensar e ver o mundo estarão se relacionando, trocando experiências e crescendo.
Nosso curso segue esse caminho...

13/08/2009

Criança: esse ser enigmático

Criança é um ser enigmático.
Eu acho incrível, podemos estudar a infância sobre todos os pontos de vista: psico, historico, social, biológico... e elas sempre vão nos surpreender e ser eternos desconhecidos. Porém, o que me é mais incrível é como elas conseguem ser tão desconhecidas para nós, quando todos nós, sem excessão, já fomos crianças.
Sempre me perguntei porque as memórias dos meus primeiros anos de vida eu não consigo recordar... Por que isso acontece se quando eu era um bebê eu reconhecia, por exemplo, pessoas mesmo depois de um tempo sem as ver. Memória eu tinha! Então, por que as esqueci? Minhas primeiras lembranças que são bem, mas bem vagas me remetem aos meus 3 anos de vida. E antes, por que nem lembranças vagas eu tenho? Já me perguntava isso quando tinha uns 10 anos e ai podiam responder que era porque havia passado muito tempo e por isso o esquecimento... Mas se hoje, depois de mais tempo do que uma década, eu ainda lembro de muita coisa dos meus 10 anos, lembranças não são uma mera questão de tempo... Resta a hipótese que a memória vai se aprimorando com o tempo, porém ainda me instigo ao pensar nas lembranças que não tenho.
Eu me questiono, o que será de tão especial e sigiloso que as crianças, em especial as pequenas, sabem que nós não podemos saber. Eu me pergunto se cometemos algum erro ao crescer e somos "punidos" com o esquecimento de tais conhecimentos especiais. Como se comêssemos a maçã e fôssemos expulsos do paraíso. Pode ser apenas uma questão de memória que ainda está aprendendo a guardar as coisas por mais tempo, contudo, ainda acredito que há saberes especiais que só elas sabem!
Fico curiosa, por exemplo, imaginando como os bebes pensam. Para mim é tão natural pensar por palavras que não imagino como as crianças antes de falar elaboram seus pensamentos. O que eu acho mais incrível ainda é que sem ter palavras para elaborar pensamentos, elas conseguem aprender a nossa linguagem. Elas são mais inteligentes do que nós que só sabemos pensar por palavras...
Tantas vezes subjulgamos esses pequenos, mas no fundo eles são muito mais espertos que nós. Trabalhando com crianças de 2 e 3 anos de idade (o fim daquela fase que eu de nada lembro), muito me surpreendo. Há alunos que na escola são mudos, nada falam. Passam o dia sem pronunciar uma frase ou, quando as pronunciam é com seus colegas, não conversando com os educadores. Entretanto, quando chegam em casa não param de falar... Qual será a razão do silêncio com a gente? Uma defesa, uma estratégia que só sendo muito esperto para fazer uso. Outra criança, uma dessas que nada falava (mas esta não falava nem na escola e nem em casa), de um dia para o outro, começou a falar e com uma dicção ótima. Como, eu acho que não entenderia. Para mim, a explicação está na magia que a infância esconde e nos fez esquecer.
As crianças são muito mais espertas do que a gente. Elas aprendem com maior facilidade e aprendem brincando. Nós dificultamos a aprendizagem, fazemos dela sofrimento conseguindo só após trabalho árduo. Por isso crianças são mais felizes.
Porém, devemos ser invejosos e vingativos e, porque nos fizeram crescer, também queremos fazer com que as crianças cresçam e cada vez mais rápido. Bombardiamos as crianças com uma mídia e um comércio que parece ignorar o brincar e as especificidades das crianças, logo, parecem pular a infância. São calçados de salto, é uma sexualização precoce, uma estatização do corpo em frente ao computador ou ao video game... Confissões de crianças de 8 anos que passavam o intervalo pensando em beijar o coleguinha na boca com toda malícia do gesto e que tinham como ídolos Kely Key (e seu cachorrinho) e Latino (com a festa no seu ape), são confissões reais que me assustam. Eu me sinto convivendo com pequenos adultos que foram banidos mais cedo da magia e dos segredos da infância.
Enfim, crianças me são seres enigmáticos com muito a nos ensinar, mas por mais que as estudemos, parece que nunca conseguimos descobrir seus segredos e sua magia. Enquanto não as compreendo, sigo com elas me encantando!