25/08/2009

Campinas, 01º de Julho de 2009.

Curso de Extensão: “Pedagogia Freinet: vida e cidadania na escola”.

Trazendo à tona recordações teóricas e afetivas vivenciadas nestes nossos encontros às quartas feiras, pretendo aqui registrar meu apanhado de forma bastante solta apesar da configuração textual em Times New Roman número 12 espaçamento em 1,5 cm.
Nesta história, quem primeiro dá as caras são aqueles homens, mulheres e crianças que produziram artesanalmente seus próprios instrumentos de caça e pesca, não por acaso hoje reduzidos à peça decorativa. O trabalho se traduzia em objeto artístico impregnado de sentido. A arte...
Hoje, eu estudo, eu lido com a burocracia, eu tenho minha mesa de trabalho cuja madeira sabe lá Deus de onde veio! E eu ganho dinheiro! Quem construiu essa mesa não foi um carpinteiro. Essa mesa pode ser igual à mesa do meu colega, do meu colega e de meus colegas, e quem a construiu nem sequer o imagina, pois do todo, foi responsável apenas por uma parte do pé. Esse porqueiro
[1] que fez parte da referida mesa, ou dessa mesa mesma que está agora sob o computador que vos traduz os dígitos; esse porqueiro, ele trabalha com os braços, ele não ganha dinheiro...
À grosso modo, quero ilustrar parte de um processo que eu posso identificar de alguma forma como uma divisão social do trabalho, em que teoria e prática se desvinculam de sua intimidade para se vincularem por uma relação de poder e valorização de uma sobre a outra, numa relação de subordinação, contradição e opressão.

Agora, nos perguntemos: e o papel dos educadores e educadoras inseridos e inseridas nas nossas escolas ditas tradicionais ou não tradicionais?

Em seus questionamentos finais do capítulo entitulado “O estatuto do poder pedagógico”[2], Juliana Varela apresenta em primeiro lugar a proposição do que fazer para articular teoria e prática. Pois bem, se pensarmos em nossa história podemos notar que nossos avós e bisavós lidavam bastante com um saber conjugado à prática, planejando como seria o sistema de escoamento da água da chuva, por exemplo, e colocando este plano em prática, fazendo daquilo uma engenhoca artística. Essas são nossas raízes?
Nós, hoje, estamos cada vez mais inseridos na lógica da valorização do trabalho intelectual sobre o braçal, situação esta otimizadíssima quando iniciamos nosso contato com a escola tradicional, naqueles moldes que discutimos em nosso primeiro encontro, y hasta ahora buscamos desconstruir. Surge alguma idéia propositiva para exercermos a educação de forma libertária e viva?
Ora, que tal eu buscar e fortalecer as minhas raízes e fazer disso uma prática coletiva, alicerce para forjarmos um outro mundo possível? Acredito que a arte tem a força, a substância e a doçura de nos devolver a possibilidade de nos transformarmos em seres humanos humanos (isso já não é uma redundância...). E que fique claro que não se trata de resgatar tradições arcaicas e impô-las no contemporâneo, mas é, em uma das fatias, significar-se... Também vale dizer que estou pensando a arte aqui neste sentido de produzir com significado, trazendo à tona a intimidade da teoria com a prática. Tenho esta impressão dos ateliês pensados e executados pelo Freinet. Pretendo estudar os livros desta pessoa com maior profundidade; apresenta-se-me bastante criativo, inovador e politizado.
Bem, por hora, aqui se finda minha expressão (ou meu expressinho!).

Thalita Camargo Angelucci


[1] Alusão ao texto “Agamenom e seu porqueiro”, In: Pedagogia Profana, Jorge Larrosa, 1999.
[2] Texto de Júlia Varela, 4º capítulo do livro "O sujeito da Educação - Estudos Foucaltianos”, organizado por Tomaz Tadeu da Silva, Editora Vozes, R.J., 2005.

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