28/05/2009

Provocações argilosas

Saí do nosso encontro de ontem um tanto quanto inquieta com inúmeros pensamentos e reflexões borbulhando em minha cabeça a respeito de nossa discussão sobre a argila.
Certas frases ditas por colegas me trouxeram algumas provocações, mas que, no calor da discussão entre as falas de uns seguido pelas de outros, acabei não encontrando espaço para me manifestar e resolvi fazer uso do nosso blog para compartilhar tais pensamentos.

Foram duas as ideias apresentadas em nossa discussão que no momento foi aclamada por todos e que agora gostaria de provocar. A primeira foi trazida pelo texto do último grupo que dizia haver dentro de cada criança uma forma e caberia a educação retirar aquela forma de dentro do aluno, assim como se lapida um diamante ou como se retira de uma pedra uma obra de arte. A segunda ideia foi trazida, se bem me recordo, pela Júlia quando disse ser prepotência nossa (não sei se foram exatamente estas as palavras) nos julgar capaz de modelar nossos alunos. Eu discordo de tais afirmações e vou tentar explicar o porquê.

Quando se pensa que há dentro de cada indivíduo uma forma a ser buscada, a ser lapidada, eu entendo que esta forma seja única. Sendo única, haveria uma modo certo de se trabalhar, de se relacionar, de educar... enfim, teria que haver um meio para se "produzir" ou se "encontrar" tal forma. Isso significa que independente de quem fosse o "escultor" a obra prima deveria ser a mesma ou o escultor não seria um bom escultor. Não creio que haja esta tal forma dentro de cada indivíduo, pois penso que não seria possível que uma argila fosse manipulada exatamente igual por duas pessoas diferentes.
Penso que há sim inúmeras potencialidades dentro de cada um, e por serem tantas, permitem infinitas possibilidades de combinações. De um mesmo pedaço de argila enquanto uns poderiam tentar tirar um coração, outros buscariam tirar algum animal, haveria aí, dentro desta argila, uma forma certa?
Do mesmo modo, assim somos! Somos argila que podemos virar inúmeras coisas. Quem vai determinar o que seremos, quais potencialidades desenvolveremos mais, como pensaremos, em meu ponto de vista, são as pessoas com as quais convivemos em atrito com aquele que nós já somos. Somos seres em construção contínua, não temos uma forma final a ser encontrada. Somos o resultado de nossas histórias e vivências, somos frutos de todos que cruzaram em nossa vida. Pense se você tivesse tido outro pai, estudado em outra escola, ter feito parte da outra panela de sua classe, ter casado mais tarde, ter tido filho mais cedo, ou ter nascido em outro lugar, seria você a mesma pessoa? Ou teriam te modelado e teria se modelado de outra forma?

Pois é refletindo assim que não penso ser prepotência de nossa parte nos julgar capaz de modelar alguém. Podemos não sermos capazes de modelar alguém do modo como gostaríamos, mas que influenciamos qualquer um que conosco convive e o modificamos (logo, o moldamos) isso me é certo. É como escrevi um dia aos meus amigos: Conhecem o ditado “diga-me com quem andas que eu te direi quem és”? Pois não digo que somos sempre iguais as pessoas com quem convivemos, mas estou certa que as pessoas com quem convivemos influenciam muito na nossa formação, seja como exemplo de como ser, agir, pensar... ou seja como um exemplo as avessas de como não ser, não agir e não pensar...

Sendo assim, penso ser importante termos consciência que sim, moldamos quem nos cerca (seja este nosso aluno, colega, amigo ou inimigo) e reconhecermos também que somos moldamos pelos mesmos. Somos argila e somos mão numa interação complexa, de mão dupla e sem fim.

2 comentários:

  1. Realmente é no nosso relacionamento diário,que conseguimos estabelecer relações, de ajuda, de aprendizado, de saberes constantes, todos aprendem uns com os outros, sempre tem alguém que nos ensinam e sempre tem alguém a quem ensinamos.
    Por isso sempre estamos nos moldando procurando nos aperfeiçoar cada vez mais.

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  2. Olá pessoal,

    Também pensei muito depois da nossa atividade de interação com argila. Eu fui uma das alunas que não se sentiu detentora do poder de lapidar alguém. Não me vejo com este poder todo. Nosso grupo se achou a água no processo de interação com a argila ao invés de ser a mão que manipula. Fomos questionados pelos outros grupos quem seria a mão então. Não tinhamos esta reposta naquele momento. Sai de lá pensando quem seria a mão no processo. Dias depois me vi achando uma possível resposta para quem seria finalmente a mão no processo de interação com a argila, ou seja quem seria então o manipulador nato dela. Achei então uma resposta que me acalmou o meu interior. Para mim a mão no processo seria o próprio conhecimento construído pelo aluno. É o conhecimento construído a druas penas que molda o ser, mas do que quem o trasnmite ou quem media a sua construção. De fato o mediador coloca um pouco de si na moldagem, mas acho que é o conhecimento a verdadeira mão que molda o ser humano. Penso que um aluno que estuda a obra de Machado de Assis com um professor de literatura é invadido por toda sorte de influências da obra na construção de seu pensamento crítico e literário. O professor de literatura pode ter uma pequenina parte neste processo, mas bem pequena será esta parte por mais talentoso que seja o professor. No meu modo de pensar seria muita prepotência deste professor achar que moldou o pensamento crítico e literário deste aluno ao estudar com ele a obra de Machado de Assis. Não seria o caso de atribuir o mérito a quem realmente o merece? O próprio Machado é claro...

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