15/10/2009

Dia dos Professores

Depois da aula de ontem fiquei instigada com nossa discussão e resolvi fazer um texto que gostaria de compartilhar com vcs. Já aviso que meus textos são longos e este não é diferente. Quem se interessar por ler, espero que goste. Meu feliz dia dos professores para toda turma!
Dia do professor...

Este é o primeiro ano que posso comemorar este dia com carteira assinada por assim dizer. Minha carteira, entretanto, não me acusa como professora, mas me caracteriza como agente de educação infantil. Eu não estou me importando muito para o nome que me chamam...
Quando optei, ainda pequena, em ser professora eu me imaginava dando aula para crianças maiores, entre seus 8 a 10 anos mais ou menos. Queria ser uma professora que transformasse as aulas em momentos gostosos e prazerosos para que as crianças tomassem gosto por aprender.
Nunca me imaginei com crianças pequenas. Não sabia o que as ensinaria. Imaginava a dificuldade que seria elas não lerem, não escreverem... Era a última faixa etária que eu pensaria trabalhar.
Depois da minha ultra-rápida experiência no ensino fundamental, tive uma frustração enorme com o sistema e percebi que ali eu não me encaixaria. Acabei por prestar concurso para a educação infantil, mas mais por falta de opção do que por vontade própria. Prestei sem maiores pretensões e passei!
Comecei a ser monitora sem bem saber o que exatamente eu fazia. Não tinha a menor noção! O início era tudo novo e desconhecido, tudo muito nublado sem maiores sentidos. Eram várias crianças que eu me perguntava quando decoraria o nome de cada uma, o sapato, o copo, o caderno, a mochila... Crianças que não paravam de chorar, que para dormir era uma luta. Crianças que dependiam muito de mim para ir ao banheiro ou para trocar a fralda, para se servir e comer, colocar o sapato, tirar o caderno... Era tanta coisa nova acontecendo que querer parar para respirar já era difícil, quem dirá ter o luxo de refletir sobre o trabalho. No corre-corre, a gente só vê os problemas que berram (inclusive literalmente) na nossa frente e nos faz pensar: com certeza não trabalharia como agente de educação infantil por muito tempo. Pensar em terminar o probatório era praticamente uma piada.
Hoje, muita coisa já mudou!
Já não sou mais a mesma menina de anos atrás. Não é que eu tenha abandonado meus sonhos, eles apenas mudaram um tantinho, porém a essência é a mesma. Já não me vejo ensinando matemática, português ou conteúdos sistemáticos do gênero. Além de ver que não me encaixaria no sistema, também percebi que há coisas muito mais importantes para ensinar do que conteúdos do tipo. Entretanto, continuo apaixonada por educação! Só que valorizo mais uma educação de valores e atitudes. Conteúdos são até importantes, mas se encontram facilmente aos montes, ainda mais na era da internet. Contudo, valores e atitudes não. Esses, livros não ensinam, da internet não podemos fazer download... É preciso de modelos e de práticas.
Quando parei para refletir sobre a minha profissão de monitora, tudo me fez mais sentido. Percebi que nos meus dias com as crianças eu as estava educando-as e muito, não porque lhe ensinara cores, números ou outros conceitos afins, mas estava educando-as através da minha conduta.
Confesso que só fui ter real noção do quanto minha pessoa era importante para aquelas pequenas crianças quando por uma infelicidade ou felicidade fui temporariamente afastada da minha turma. A gente só valoriza quando perdemos, só conseguimos enxergar direito quando nos afastamos.
Sempre soube (e muito por experiência própria) que quanto mais você gosta de uma pessoa, mais você a considera e, portanto, maior é a responsabilidade dela como exemplo para você. E quando me afastei da minha turma, percebi o quanto eu era importante para elas, o quão grande era o carinho que tinham por mim. Logo, quão grande era a minha responsabilidade.
Crianças pequenas estão começando a aprender a viver em sociedade. E esta é a arte mais importante que podem aprender, pois precisarão dela para o resto de suas vidas. Como monitora, posso ajudá-las nessa construção dando lhe limites e muito carinho, pois é disso que se trata o viver em sociedade. Não podemos fazer o que bem queremos, quando queremos, pois em sociedade nossa liberdade termina quando começa a do outro, logo, nossa liberdade tem limites. Ao mesmo tempo, para viver em sociedade devemos amar ao próximo, isso envolve respeito e consideração que ensinamos através do carinho.
Outro dia fui encarregada de fazer um filme sobre as crianças da escola. O que num momento foi um encargo pesado e de alta responsabilidade para ser feito num curto espaço de tempo, o resultado foi um enorme olhar da nossa realidade. Sei que há muito o que reclamar na minha vida profissional. Não somos valorizados pela sociedade, somos testados todos os dias por nossas crianças, nosso salário é melhor nem comentar... Mas quando revejo o filme que fizemos não vejo profissão mais gratificante e importante que a minha!
As pessoas mais significativas de nossa vida são aquelas que nos ensinaram com sua conduta e seus exemplos, pois pessoas são mais marcantes do que informações. Sei, entretanto, que minhas crianças são pequenas e podem vir a se esquecer da minha fisionomia, do meu nome, mas tenho certeza que a influência que exercemos em algum lugar ficará registrada. E essa marca lhe será muito importante, apesar de talvez inconsciente, e em nenhuma outra profissão poderíamos contribuir com uma marca maior e de valor inestimável. É certo que marcamos as crianças, positiva ou negativamente, e por isso nossa profissão não é assim tal fácil. Mexemos com vidas e com vidas em início de sua construção não há responsabilidade maior.
Sei que minha profissão enfrenta problemas, mas não quero mais abrir mão dela, pois se um dia meu sonho foi contribuir para melhorar o mundo e o mundo é feito por pessoas e estas se constituem pela educação; não há profissão melhor para realizar meu sonho do que na proximidade de ser monitora e poder estar ao lado das crianças dia-a-dia ensinando-as a conviver através das relações de muito carinho e limites necessários que vamos construindo com cada uma e que torna cada uma especial e os melhores presentes para comemorar o dia do professor!

Um comentário:

  1. Eu estoudei no velho "Caetano de Campos". Não sabia que o "Caetaninho" tinha proposto essa comemoração.
    Gostei de saber . Valeu a sua busca de informações!

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